março de 2019
A criança se encontra em uma fase específica do desenvolvimento humano: a infância. Esta fase é o período de construção do ser, na qual uma identidade humana se forma. Um bebê nasce totalmente desprotegido, dependente do outro, tanto em relação a cuidados básicos fisiológicos como em relação a afeto e proteção.
A infância é o símbolo da inocência e por sua natureza é vulnerável, ou seja, é frágil, pois está suscetível a ser afetada pelo outro, melhor dizendo, nesta fase a criança só sobreviverá se for afetada pelo outro. O estado biológico com o qual o bebê humano nasce não é suficiente para a sua sobrevivência, o outro é determinante.
Este outro pode ser uma família ou uma instituição, é a partir dele que a identidade da criança vai se formando, este outro a humaniza, pois lhe diz quem ela é e sonha com o que ela pode ser em seu futuro. Muito embora, ao nascer já haja uma semente do que aquela criança tem potencial para ser, esta semente pode ou não desabrochar ou pode se transformar outra coisa.
Através da relação com o outro a criança vê espelhada a imagem do semelhante e através desta imagem desperta os aspectos que a constitui. Ao ser cuidada pelo outro, ao ser amada, ao brincar, ao ouvir histórias é a sua história que se forma. Quando este outro também está em estado vulnerável reflete imagens de abandono, desamor, maus tratos; estes passam a ser os aspectos que a criança se espelha e é formada. Portanto, quando a criança ao nascer é colocada ou se encontra em situação de vulnerabilidade social, tanto ela quanto o meio estão frágeis, fracos, feridos, portanto suscetíveis ao abandono, à criminalidade, à prostituição. Como este outro – adulto – é igualmente frágil, a criança passa muito cedo da infância para a fase adulta, pois precisa sobreviver sozinha.
O contato desta criança vulnerável com um outro adulto estruturado pode lhe devolver a fase da infância que lhe foi roubada pela violência. Assim é a atuação do Transforme Sorrisos, ao levar a arte e a cultura às crianças em situação de vulnerabilidade, possibilita a estas entrarem em contato e desenvolverem a imaginação e a fantasia, por intermédio de atividades lúdicas, como jogo, pintura, modelagem, contato com a natureza, histórias, entre outras. Através destas atividades a criança tem a oportunidade de transformar o seu olhar sobre o mundo e sobre ela mesma, com isso, pode reconstruir uma identidade – a sua, própria.
Transformar sorrisos significa dar a criança o direito de ser criança novamente, de trocar a arma, o canivete, a droga, a bebida – coisas do obscuro mundo adulto -, por aquilo que caracteriza a infância: o faz de conta, a brincadeira, a magia. Quando uma criança “faz de conta” é a sua história futura que ela está tecendo, para isto utiliza personagens, amigos invisíveis. A atividade lúdica trás de volta o mundo mágico da infância. É neste mundo mágico que habita os traços do adulto estruturado que um dia a criança se transformará.
CUNHA, Antônio Geraldo. Dicionário etimológico nova fronteira da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1997.
ESCORSIN, Ana Paula. Psicologia e desenvolvimento humano. Curitiba: InterSaberes, 2016.
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JUNG, Carl Gustav. Desenvolvimento da personalidade. Petrópolis: Vozes, 1991.
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_____. A criança: estrutura e dinâmica da personalidade em desenvolvimento desde o início de sua formação. São Paulo: Cultrix,1980.
Ana Paula Escorsin
Psicóloga clínica, coach e professora. Mestre em educação e especialista em psicologia analítica.
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